05/02/2011

Leitor pergunta sobre o Salmo 115


Por Emerson H. de Oliveira

[Leitor autorizou a publicação de seu nome no site]
Nome do leitor: Gregório Rios
Cidade/UF: Jitauna/Ba
Religião: Protestante Pentecostal
Mensagem

NAO TEM O SALMO 115 NA BIBLIA DE VOCÊS NÃO É?

Prezado Gregório, a Paz do Senhor. Sim, prezado, tem sim, da mesma forma que a interpretação correta deste salmo, que os protestantes distorcem sobre a Igreja católica. Aliás, a Bíblia católica é mais completa que as protestantes, pois nestas faltam os livros deuterocanônicos. Tirar versículos do contexto e distorcer sua verdadeira interpretação é passatempo predileto do protestantismo desde a Reforma protestante. Está disposto a analisar honestamente o que o Sl. 115 diz ou ainda quer ficar no subterfúgio da falácia protestante?

Note o v. 4: “Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens”. Ídolos de quem? Para alguns desavisados, isso poderia soar logo “ah! É a Igreja católica”. Errado! Veja o v. 2: “Por que diriam as nações: Onde está o Deus deles?” As nações (pagãs). O texto, longe da cavilação protestante, tem que ser entendido no seu devido contexto, que é expressar a comparação do salmista do povo santo com as nações, que estes adoravam ídolos, e afirmavam que esses ídolos eram verdadeiros deuses.

A falácia protestante começa no v. 5. Mas o versículo fala dos ídolos das nações pagãs. Estes ídolos eram esculpidos com bocas, mas eles não faziam nenhum uso delas; se lhes clamassem, eles não poderiam responder, nem salvar de suas dificuldades. Os sacerdotes de Baal clamaram a seu ídolo, mas não ouviram nenhuma voz, nem retornou resposta; eles são justamente chamados de ídolos mudos, Hb. 2.18 Is. 46.7 Jr. 10.5;Ire. 18.26,2. Os católicos não clamam às imagens, como os pagãos (para quem as estátuas eram O deus em si) mas oram JUNTO com os santos nelas representados.

Agora, o que tem isso a ver com a doutrina católica? Em nenhum momento a Igreja, em seu ensino oficial, diz para alguém adorar uma imagem! Somente alguém de má-fé, preconceito e completo desentendimento da doutrina católica para afirmar tal disparate! As imagens na Igreja não são para serem adoradas mas somente como uma homenagem ao santo representado. Se fazer imagens fosse proibido, Gregório, coitado dos escultores! Deus mesmo NUNCA proibiu fazer imagens, mas as recomenda (Ex. 25.22; IRe. 9.3)

Para derrubar a mentira deslavada protestante recorramos ao Catecismo:
2112 - O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades afora a única. A escritura lembra constantemente esta rejeição de "ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens", os quais "têm boca e não falam, têm olhos e não vêem..." Esses ídolos vãos tornam as pessoas vãs:

"Como eles serão os que o fabricaram e quem quer que ponha neles a sua fé" (Sl 115,4-5. 8). Deus, pelo contrário, é o "Deus vivo" (Jo 3, 10) que faz viver e intervém na história.

2113 - A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o homem presta honra e veneração a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro etc. "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro", diz Jesus (Mt 6,24). Numerosos mártires morreram por não adorar "a Besta", recusando-se até a simular seu culto. A idolatria nega o senhorio exclusivo de Deus; é, por­tanto, incompatível com a comunhão divina.

Da mesma forma como os protestantes desmerecem as imagens católicas eles deveriam desmerecer e criticar publicamente as imagens de personagens históricas em praças e museus. Mas raramente vejo um protestante fazer isso. Por quê? Porque eles irão dizer: “ah! Mas nós não adoramos essas estátuas de D. Pedro I, Cabral, etc”. Nem nós católicos adoramos imagens de santo algum. São homenagens, representações e não um fim de adoração em si. Somente anticatólicos desinformados que continuam espalhando esta tolice.

Assim, o Sl. 115 é muito mal usado por alguns contra a Igreja católica, que o tiram de seu devido contexto. Não pode retirar um texto isolado da Bíblia, sem exegese, e aplicá-lo a bel prazer criando uma doutrina.

Os “ex-católicos” dizem: “quando éramos católicos, adorávamos as imagens, pensando que tinham poder. Até lhes pedíamos milagres”. Minha pergunta a essas pessoas é: “quantas vezes freqüentaram a Igreja e estudaram a doutrina católica? Esses ex - católicos eram católicos “de nome”, nada mais. Qualquer coisa pode ser uma imagem e me ajudar a crescer em minha fé. Uma rocha me faz pensar em Deus, a Rocha da Salvação; um rio me faz pensar que Jesus nos promete água viva. Também um cordeiro nos lembra que Jesus é o Cordeiro de Deus. A luz do Sol, se estou desperto espiritualmente, é um bom sinal de que Cristo é a Luz do Mundo. Todas essas imagens são más?

Os irmãos protestantes que me dizem: “todas as imagens são más” tem problemas quanto lêem que Jesus é a Imagem de Deus (Cl.1.15) e que também NÓS somos feitos à Sua Imagem (Gn.1.26). Jesus é mal, então? E nós?

A Igreja católica e particularmente as Igrejas Ortodoxas citam a obra de S. João Damasceno "Sobre as Imagens Divinas" para defender o uso de ícones. Ele escreveu em resposta direta à controvérsia iconoclasta que começou no século VIII pelo imperador bizantino Leão III e continuou por seu sucessor, Constantino V. S. João ensinava que representar o Deus invisível é de fato errado, mas ele discute que a encarnação, onde "o Verbo se fez carne" (João 1.14), indica que o Deus invisível ficou visível, e como resultado, é permissível representar Jesus Cristo.

Jacó se curvou ao solo diante de Esaú, seu irmão, e também diante de seu filho José (Gn. 33.3). Ele se prostrou, mas não o adorou. Josué, o filho de Nun, e Daniel se curvaram em reverência diante de um anjo de Deus (Js. 5.14) mas eles não o adoraram. “Adoração é uma coisa e o que é oferecido em honra de algo de grande excelência é outra coisa", diz S. João Damasceno. Ele cita S. Basílio, que afirma "a honra dada à imagem é transferida a seu protótipo”. S. João então ensina que venerar uma imagem de Cristo não termina na própria imagem - o material da imagem não é o objeto de adoração - na verdade vai além da imagem, para o protótipo.

Agora, a própria Bíblia profetiza contra os protestantes destruidores de imagens cristãs: Sl. 74. 3-8. “Eis que toda obra entalhada, eles a despedaçaram a machados e martelos” (v. 6). Aí os protestantes encontram um problemão, pois estas “obras entalhadas” eram também imagens de querubins (IRe. 6.29). Gregório vai encontrar um problemão com sua teoria anticatólica.

Agora volto a pergunta ao mesmo Gregório e digo: sua Bíblia tem Mt.16.18, que prova que Jesus fundou a Igreja sobre Pedro? Sua Bíblia tem IITs. 2.15 que prova a Sagrada Tradição? Na sua Bíblia protestante por acaso não tem Ef. 4.4-5, que prova que a Igreja é visível e una? Não tem At. 8.14-15, que fala sobre a Crisma? Não tem Mt.14. 22-24, que prova a Sagrada Eucaristia? Na sua Bíblia, Gregório, tem Ml.1.11, que profetiza sobre a missa (os cultos protestantes não são sacrificiais, logo esta profecia não é para eles)? Tem Jo. 20.21-23 e At. 19.18, que prova (entre outros versículos) a Confissão? Tem ICo. 4.1, que prova a Ordem Sacerdotal? Tem Mt.12.32, que alude ao Purgatório? Tem Lc.1.28, que chama Maria de “cheia de graça” (a tradução mais correta)? Na sua Bíblia ou de qualquer pentecostal tem Ap. 5.8, que demonstra a intercessão dos santos? E muito mais?

Por tudo isto, cabe perguntar se na sua Bíblia tem estes textos (e muitos mais) ou se é que não quer vê-los?

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